sexta-feira, 23 de março de 2012

Conto III: Pequenos Milagres

Desculpem a demora para postar!
É que essa semana foi bem corrida e também estava preparando este conto ^^. Espero que gostem ^^.
Comentários, críticas e sugestões (ou elogios, por que não?) são sempre bem-vindos ^^.


Pequenos Milagres

Estava fresco naquele outono, mas os raios de sol, que brilhavam de forma acolhedora entre as folhas alaranjadas das aceres, aqueciam a pele daqueles que descansavam no jardim. Eram três horas da tarde, os alunos estavam espalhados pelas instalações do colégio aproveitando o tempo do intervalo. A maioria formava pequenos grupos nos quais trocavam risos e conversas extrovertidas. Os que preferiam ficar sozinhos passavam o tempo lendo um livro ou ouvindo músicas. Entretanto, havia uma aluna em especial que chamava a atenção.

Aparentemente, era uma colegial comum. Possuía um ar levemente desleixado por seu cabelo estilo rabo de cavalo e pelas mangas de sua camisa dobradas até a altura dos ombros. Todas as tardes, a garota recostava-se em uma mesma árvore e ficava observando a paisagem até o final do intervalo. Esse fato despertou a curiosidade de um garoto, de semblante sereno, que casualmente passava por um corredor com grandes janelas que exibiam a beleza do jardim.

Então, naquela tarde, o garoto criou coragem para descobrir o porquê de a garota ficar todos os dias no mesmo lugar apenas observando a paisagem. Aproximou-se em passos silenciosos, postando-se em uma árvore vizinha da qual ela se encontrava. A princípio, parecia apenas observá-la, na tentativa de entender sua atitude, mas sem chegar a uma conclusão, sentou-se próximo a garota e passou a olhar na mesma direção que ela.

Mesmo com a aproximação do rapaz, a garota pareceu não se importar e continuou olhando para a paisagem. Como o colégio se encontrava no ponto mais alto daquela região, era possível ver as casas e as ruas tranquilas daquela cidade do interior. Não somente isso, também era possível ver grande parte do céu azul e das nuvens brancas e bem formadas, característicos da estação. Aquela bela cena enchia o coração do garoto de paz e, ao mesmo tempo, o fazia sentir um formigamento de inquietude, o qual não sabia discernir se era por tédio ou por não entender o que tanto aquela garota tinha para fazer naquele exato lugar.

Apesar de sua natureza tímida, o garoto finalmente decide fazer uma pergunta para a garota que, apesar de ter notado a presença do rapaz, continuou a observar a paisagem se transformando serenamente.

“Desculpe a minha intromissão...”

Percebendo sua ansiedade, o garoto dá uma pausa e respira. A garota, por sua vez, olha para ele com um sorriso, esperando a continuação de sua sentença. Isso deixou o rapaz ainda mais sem jeito, pois percebera que a garota, apesar de seu ar relaxado, tinha uma beleza incomum, diferente das garotas que se produziam de modo artificial. Era muito suave e natural e, por um momento, perguntou para si mesmo por que não a tinha notado antes. Resolveu deixar os pensamentos de lado ao ver que a garota ainda esperava que ele continuasse a frase que ficou inacabada.

“Er... todo o intervalo eu a vejo aqui, sentada nesse mesmo lugar e olhando para a mesma direção, sem fazer nada de diferente...”

“E você quer saber o que eu tanto tenho para fazer aqui, não é?”

Ao ver o rapaz abaixando seu rosto após a sua dedução, a garota dá uma gargalhada desajeitada, deixando o jovem ainda mais envergonhado. Ele se levanta e dá um passo para trás, mas antes que pudesse sair, a garota segura a manga de sua camisa. O garoto parou e olhou para trás, percebendo, então, que a garota sorria ao respondê-lo.

“Gosto de admirar os pequenos milagres.”

“Pequenos milagres?”

Tomado pela curiosidade, o garoto volta a sentar ao lado da garota que, por sua vez, solta da manga do rapaz.

“Uhum... são as coisas que geralmente passam despercebidas pelas pessoas, mas, se pararmos para pensar, são coisas realmente importantes.”

“Eu ainda não consigo entender.”

O rapaz estava confuso, no entanto, procurava entender a profundidade daquelas palavras. A garota se espreguiçou e, logo em seguida, continuou:

“Poder ver o céu, as plantas, os insetos e animais, estar cercada de vida... estar presente para vivenciar tudo isso... é um milagre.”

“Viver é um milagre?”

“As pessoas lutam tanto em suas vidas diárias... lutam para poder comer, lutam contra doenças, lutam por dinheiro para sobreviver, que acabam se esquecendo de viver. Procuram tanto a realização, muitas vezes até se sacrificam para viver o amanhã, esquecendo-se das pequenas felicidades do hoje. Às vezes, acreditam que estão sozinhos, mas não são capazes de perceber que, ao seu lado, há uma mão estendida gentilmente.”

“Mas o que isso tem a ver com observar a paisagem?”

“Se as pessoas parassem para observar mais a natureza, talvez conseguissem perceber detalhes como esse. Ver os pequenos insetos que, juntos, trabalham para polinizar as plantas, as quais se multiplicam pelos grandes campos, crescendo com a ajuda do sol e da chuva, criando assim, um lugar para muitos outros animais viverem, onde estes também contribuem para construir algo realmente belo. Cada um desempenhando sua função, no seu devido tempo, mas todos juntos... caminhando de mãos dadas.”

O garoto ficou pensativo, fazendo com que os papéis se invertessem ao deixar a garota curiosa para saber o que o rapaz pensava a respeito. Alguns minutos se passam e a garota perde um pouco das esperanças de que ele poderia compreendê-la. O sinal toca, indicando o fim do intervalo. Com isso, o garoto se levanta, ainda sem dizer nada. A garota, já conformada pelo silêncio do rapaz, também começa a se preparar para retornar à sala de aula, satisfeita por pelo menos alguém ter se interessado pela questão. Mas antes que ela se levantasse, percebe a mão estendida do garoto, que sorria timidamente.

“Acho que agora é a nossa vez de construir pequenos milagres.”

De forma inesperadamente doce, a garota deixa escapar um sorriso entre seus olhos encharcados. Ela segurou a mão do garoto e ambos seguiram para a aula, carregando dentro de seus corações a esperança de que esse sentimento pudesse se espalhar, e que, aos pouquinhos, as pessoas também pudessem cultivar pequenos milagres em suas vidas.

*** FIM ***

2 comentários:

  1. Gosto da forma sutil com que descreve as coisas! admito que logo de inicio compreendi o que significava a observação da garota.

    Mas o fato das posições se inverterem já no final, quando ela que fica curiosa sobre o que ele pensava... isso foi inesperado. xD

    Muito Bom! *-*

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    1. Obrigada, Mari ^^!
      Fico muito feliz por ler meus textos ^^!
      Hahahaha acho que meus textos começam meio óbvios e depois se desviam hahaha XD...

      Volte sempre *w*/

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