E na semana que vem teremos a primeira parte do capítulo 2 de >>SNIPER<< .
Tenham uma boa leitura!
Menina Egoísta
Em uma sala de aula, uma menina de 12 anos preparava seu trabalho de artes. Com um pedaço de pano e alguns palitos de sorvete dispostos na carteira, a pequena garota olhava de vários ângulos a caixinha que começara a montar. Antes que pudesse terminar sua obra de arte, foi interrompida por um de seus colegas de classe.
- Empresta dez palitos?
- Não... – responde a menina, olhando para o menino como se quisesse saber o porquê.
- E sete? É que faltou palito pra eu terminar o meu robô e eu queria fazer algo assim... – o menino desenhava com as mãos no ar, acreditando que a colega mudaria de opinião – e vai ficar muito legal.
- Não. A quantidade de palitos que eu tenho vai dar certinho para o que eu quero fazer – esclarece a garota.
- Ah... é só você fazer com menos. Você nem precisa de tantos palitos, é só uma caixinha – o colega continua a insistir. – Vai... então cinco só. Aí não fica ruim pra ninguém.
- Já disse que não dá!
- Tá bom! Fica aí com seus palitos... sua egoísta.
A menina continuava sua caixinha sem se abalar, mas é interrompida pela professora que viu tudo o que aconteceu. A professora se abaixou para ficar na altura da menina, colocou suas mãos sobre seus ombros e, olhando em seus olhos, começou a dar algumas orientações.
- Olha, eu vi o que aconteceu. Sei que você tomou mais cuidado planejando seu trabalho do que seu amiguinho... – a professora parecia escolher as palavras para não ofender a garota – mas você não pode mesmo emprestar algum palito para ele?
- Mas, professora, eu disse pra ele que estava com os palitos contados.
- Eu sei, querida – a mentora tentava aliviar a situação. – Mas ajudando seus amiguinhos você está fazendo algo muito bom. Veja, se a gente deixar a caixinha com uma ou duas fileiras a menos só ficará mais baixinho e não ficará feio. Não se preocupe, não vou descontar da sua nota.
- Não é com a nota que estou preocupada, professora... – a garota tenta mostrar seu ponto de vista, mas antes que terminasse é interrompida.
- Será que isso não é egoísmo de sua parte? Parece que você só está pensando em si mesma e nem um pouco em seus amiguinhos.
- Egoísmo é algo tão ruim assim, professora?
- Claro que é. Ninguém gosta de gente egoísta.
A garota continuou seu trabalho em silêncio até o término da aula. Voltou para casa, entretanto o que tinha acontecido na escola continuava em sua cabeça. Resolveu então perguntar à sua mãe que, no momento, estava passando roupa enquanto assistia a um programa na TV.
- Mãe, ser egoísta é algo muito ruim?
- Claro! – a mãe põe o ferro na posição vertical e olha para a filha com surpresa. – Pense, se a mamãe fosse egoísta, tiraria a tarde só pra assistir televisão e não passaria a roupa. Isso seria egoísmo e não é bom.
- Então tá bom, mamãe – a garota sai levemente desapontada. – Ah é! Vou pra casa da vovó. Volto mais tarde.
- Tudo bem, filha. Vá com cuidado.
Com a caixinha dentro de uma sacola, a menina parte para a casa da avó. Ela se sente um pouco desapontada pelas palavras que ouviu até o momento, mas não desiste de encontrar uma resposta satisfatória para sua dúvida. Chegando à casa de sua avó, encontra a mesma sentada na cadeira de balanço, tomando um chá e admirando seu pequeno pomar de árvores baixas. A velha senhora, ao ver a presença de sua querida neta, deixa a xícara de chá na mesinha ao lado e se levanta para dar um grande abraço seguido de um beijo no rosto. A garota retribui da mesma forma e quando a avó lhe pergunta se está tudo bem, ela conta tudo o que aconteceu desde a aula até a conversa em casa e, então, faz para a avó a mesma pergunta que fez para a professora e para a sua mãe.
- Vovó, ser egoísta é tão ruim assim? – a garota faz a pergunta meio desanimada, já imaginando qual poderia ser a resposta.
A avó, no entanto, deu uma risada, a qual a neta não entendeu – e se mostrava um tanto confusa.
- Depende, minha netinha. Existem dois tipos de egoístas.
- Dois? – a garota parecia ainda mais confusa.
- Sim – a velhinha sorria. – O primeiro é ruim. É aquele que só pensa no benefício próprio, mesmo que tenha que prejudicar alguém.
- Ahn... Entendi – a garota começava a desanimar ainda mais.
- O segundo, é bom... e, realmente, faltam pessoas assim no mundo – a avó olha para a neta como se entendesse o que se passava em seu coração. – É aquele que, apesar de agir de maneira própria, independentemente do que os outros pensem ou digam, faz aquilo que deseja em prol de um bem maior.
A satisfação pregada no rosto da jovem era notável e, sem dizer uma palavra, sorriu carinhosamente para a avó como se finalmente encontrasse a resposta que tanto procurava. A avó abraçou novamente a neta e percebeu que a pequena garota carregava uma sacola.
- Você deixa a vovó saber o que tem nessa sacola? – perguntou docemente.
- Claro, vovó. – a menina abre a sacola e retira a caixinha que fez na aula de artes. – Fiz o mais parecido que pude, espero que eles gostem.
Rapidamente, a menina correu até o pé de jabuticaba, subiu em um galho alto e colocou sua pequena caixinha no lugar em que se encontravam restos de um ninho que pertencia a um casal de pardal. O ninho foi destruído pelas fortes chuvas daquela época do ano e, ao presenciar tal cena, a garota decidiu ajudar as aves construindo um ninho novo. Assim, sentindo sua missão cumprida, a garota ficou em cima do pé de jabuticaba esperando o casal de pardal acostumar com sua nova casa, enquanto a avó continuava a observar aquela cena, bebendo tranquilamente seu chá e sentindo o balançar de sua cadeira.
*** FIM ***