quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Conto I: Menina Egoísta

Como prometido, uma crônica ^^.
E na semana que vem teremos a primeira parte do capítulo 2 de >>SNIPER<< .

Tenham uma boa leitura!


Menina Egoísta

Em uma sala de aula, uma menina de 12 anos preparava seu trabalho de artes. Com um pedaço de pano e alguns palitos de sorvete dispostos na carteira, a pequena garota olhava de vários ângulos a caixinha que começara a montar. Antes que pudesse terminar sua obra de arte, foi interrompida por um de seus colegas de classe.

- Empresta dez palitos?
- Não... – responde a menina, olhando para o menino como se quisesse saber o porquê.
- E sete? É que faltou palito pra eu terminar o meu robô e eu queria fazer algo assim... – o menino desenhava com as mãos no ar, acreditando que a colega mudaria de opinião – e vai ficar muito legal.
- Não. A quantidade de palitos que eu tenho vai dar certinho para o que eu quero fazer – esclarece a garota.
- Ah... é só você fazer com menos. Você nem precisa de tantos palitos, é só uma caixinha – o colega continua a insistir. – Vai... então cinco só. Aí não fica ruim pra ninguém.
- Já disse que não dá!
- Tá bom! Fica aí com seus palitos... sua egoísta.

A menina continuava sua caixinha sem se abalar, mas é interrompida pela professora que viu tudo o que aconteceu. A professora se abaixou para ficar na altura da menina, colocou suas mãos sobre seus ombros e, olhando em seus olhos, começou a dar algumas orientações.

- Olha, eu vi o que aconteceu. Sei que você tomou mais cuidado planejando seu trabalho do que seu amiguinho... – a professora parecia escolher as palavras para não ofender a garota – mas você não pode mesmo emprestar algum palito para ele?
- Mas, professora, eu disse pra ele que estava com os palitos contados.
- Eu sei, querida – a mentora tentava aliviar a situação. – Mas ajudando seus amiguinhos você está fazendo algo muito bom. Veja, se a gente deixar a caixinha com uma ou duas fileiras a menos só ficará mais baixinho e não ficará feio. Não se preocupe, não vou descontar da sua nota.
- Não é com a nota que estou preocupada, professora... – a garota tenta mostrar seu ponto de vista, mas antes que terminasse é interrompida.
- Será que isso não é egoísmo de sua parte? Parece que você só está pensando em si mesma e nem um pouco em seus amiguinhos.
- Egoísmo é algo tão ruim assim, professora?
- Claro que é. Ninguém gosta de gente egoísta.

A garota continuou seu trabalho em silêncio até o término da aula. Voltou para casa, entretanto o que tinha acontecido na escola continuava em sua cabeça. Resolveu então perguntar à sua mãe que, no momento, estava passando roupa enquanto assistia a um programa na TV.

- Mãe, ser egoísta é algo muito ruim?
- Claro! – a mãe põe o ferro na posição vertical e olha para a filha com surpresa. – Pense, se a mamãe fosse egoísta, tiraria a tarde só pra assistir televisão e não passaria a roupa. Isso seria egoísmo e não é bom.
- Então tá bom, mamãe – a garota sai levemente desapontada. – Ah é! Vou pra casa da vovó. Volto mais tarde.
- Tudo bem, filha. Vá com cuidado.

Com a caixinha dentro de uma sacola, a menina parte para a casa da avó. Ela se sente um pouco desapontada pelas palavras que ouviu até o momento, mas não desiste de encontrar uma resposta satisfatória para sua dúvida. Chegando à casa de sua avó, encontra a mesma sentada na cadeira de balanço, tomando um chá e admirando seu pequeno pomar de árvores baixas. A velha senhora, ao ver a presença de sua querida neta, deixa a xícara de chá na mesinha ao lado e se levanta para dar um grande abraço seguido de um beijo no rosto. A garota retribui da mesma forma e quando a avó lhe pergunta se está tudo bem, ela conta tudo o que aconteceu desde a aula até a conversa em casa e, então, faz para a avó a mesma pergunta que fez para a professora e para a sua mãe.

- Vovó, ser egoísta é tão ruim assim? – a garota faz a pergunta meio desanimada, já imaginando qual poderia ser a resposta.

A avó, no entanto, deu uma risada, a qual a neta não entendeu – e se mostrava um tanto confusa.

- Depende, minha netinha. Existem dois tipos de egoístas.
- Dois? – a garota parecia ainda mais confusa.
- Sim – a velhinha sorria. – O primeiro é ruim. É aquele que só pensa no benefício próprio, mesmo que tenha que prejudicar alguém.
- Ahn... Entendi – a garota começava a desanimar ainda mais.
- O segundo, é bom... e, realmente, faltam pessoas assim no mundo – a avó olha para a neta como se entendesse o que se passava em seu coração. – É aquele que, apesar de agir de maneira própria, independentemente do que os outros pensem ou digam, faz aquilo que deseja em prol de um bem maior.

A satisfação pregada no rosto da jovem era notável e, sem dizer uma palavra, sorriu carinhosamente para a avó como se finalmente encontrasse a resposta que tanto procurava. A avó abraçou novamente a neta e percebeu que a pequena garota carregava uma sacola.

- Você deixa a vovó saber o que tem nessa sacola? – perguntou docemente.
- Claro, vovó. – a menina abre a sacola e retira a caixinha que fez na aula de artes. – Fiz o mais parecido que pude, espero que eles gostem.

Rapidamente, a menina correu até o pé de jabuticaba, subiu em um galho alto e colocou sua pequena caixinha no lugar em que se encontravam restos de um ninho que pertencia a um casal de pardal. O ninho foi destruído pelas fortes chuvas daquela época do ano e, ao presenciar tal cena, a garota decidiu ajudar as aves construindo um ninho novo. Assim, sentindo sua missão cumprida, a garota ficou em cima do pé de jabuticaba esperando o casal de pardal acostumar com sua nova casa, enquanto a avó continuava a observar aquela cena, bebendo tranquilamente seu chá e sentindo o balançar de sua cadeira.

*** FIM ***

10 comentários:

  1. Bela crônica. É aquele detalhe, os adultos muitas vezes não param para ouvir os motivos da criança e acabam comentendo injustiças. Mandou bem!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Goiaba ^^
      Que bom que gostou ^^!

      Às vezes os adultos se esquecem que já foram crianças!
      Hahahahaha ^^!

      ^^/

      Excluir
  2. É complicado. Confesso que julguei a menina de imediato como irritante. Mas faz parte. Ela aprendeu e eu aprendi. Ter a resposta certa no momento certo é difícil, só com experiência acho q conseguimos observar melhor o "todo" de uma situação. A pequenina tmb teve presença de espírito e inquietude para sempre seguir em frente, independente do que os demais falavam. Parabéns Mi, estava na hora desse conto aqui. Ah, detalhe, gostei que tenha sido uma jabuticabeira. Me senti em casa. Como se fosse uma história familiar sabe. =)
    Bjoes! 0o/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Isra ^^

      É natural a gente acabar julgando as pessoas antes mesmo de conhecê-las. Também foi um vício meu de quando era mais nova ^^.
      Mas aprender é bom ^^. Que bom que gostou fico feliz mesmo ^^!!!
      Jabuticabeiras também me dão um ar mais caseiro ^^.

      Bjos ^^/!

      Excluir
  3. você manipulou bem a visão do leitor sobre a garota guiando com facilidade nossa mente, ate nos dar o choque do autruismo da garota

    muy bom garota! ;)

    confesso que me surpreendi xD

    abraços raposisticos :3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Mari *-*

      Surpresas são o que deixa a vida mais saborosa ^^ (ou não, dependendo da surpresa, mas enfim xD)

      Abraços tuelhisticos pra você *-*!

      ^^/

      Excluir
  4. aqui, nao sei se é o frio xD mas eu me arrepiei lendo :)

    gosto de coisas que me fazem arrepiar.
    mas eu nao achei a menina egoista nem implicante. eu acho que eu estava tão decepcionado quando ela.
    me senti realmente no lugar da menina. e o que ela fez no final pra mim não foi uma surpresa, e mais uma confirmação do que eu esperava. enfim, eu gostei muito :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Ky ^^!

      Fico feliz que tenha gostado ^^!!
      E isso porque nem é história de terror, hein? hahahaha brincadeira xD

      Fico feliz com sua visita aqui no meu bloguinho ^^!

      ^^/

      Excluir
  5. Olá, muito prazer!^^
    Que lindo! Amei a sua crônica e da maneira como ela nos surpreende. Mas, sabe, também não é egoísmo do coleguinha dela querer estragar os planos da garota, que planejou tudinho e se dedicou? ò.ó
    Enfim, meus parabéns, você escreve muito bem!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, o prazer é todo meu ^^

      Hahahaha pois é, né? Às pessoas têm mania de julgar uma as outras sem antes se auto-julgarem. XD

      Obrigada ^^! Fiquei muito feliz pelo comentário ^^!

      Excluir